Diretor do Botafogo prevê 'tempos difíceis' e cita crises passadas para seguir em frente

André Mazzuco, diretor de futebol do Botafogo, deu uma entrevista exclusiva ao GLOBO e falou sobre vários pontos do clube, que lidera o Brasileirão e o seu grupo na Copa Sul-Americana. Com o bom desempenho dentro de campo, os bastidores vive um árduo processo para manter os resultados nesta temporada e nos anos seguintes.

Abaixo, veja trechos da entrevista de André Mazzuco ao "O Globo" e os pontos abordados pelo diretor.

André Mazzuco fala sobre bastidores no Botafogo

Diretor-executivo de futebol no Botafogo, André Mazzuco comentou sobre a transformação fora de campo e os resultados obtidos dentro das quatro linhas. Confira trechos.

Expectativas para 2023

Ano passado terminamos em 11° numa última rodada que podíamos ter terminado em 6º. Então agora é subir um degrau, lutando em cima para beliscar uma Libertadores. É o que a gente tem feito. Posso dar o exemplo do Palmeiras, eles têm todas as ferramentas, estabilidades, constâncias para falar “quero ser campeão brasileiro”. Eles têm a garantia das ferramentas. Lógico que é só um que ganha e eles podem não ganhar, mas eles têm todas as ferramentas. O Botafogo, não. Está muito longe disso. Mas hoje a gente já pode ter algumas questões bacanas inerentes ao trabalho. Acho que é dessa forma que lidamos com isso.

Contas do clube

Lógico que o Botafogo precisa funcionar, precisamos ter fontes de receita, valorizar ativo, que é o que estamos fazendo. Isso também é ter equipes vencedoras, que estejam bem, porque valoriza a marca. Estamos nos equilibrando. É óbvio que nem tudo são flores, mas com o passar do tempo a gente está sempre mais preparado para lidar com os tempos difíceis. A nossa meta é manter o momento, mas é futebol. Você perde um jogador, sai outro. Mas não existe esse plano de vender determinada quantidade de jogadores. O plano do Botafogo é trabalhar com o que a gente tem e, no macro, ter uma equipe competitiva, recrutar e captar bons ativos e fazer a roda girar — disse Mazzuco, que completou: — Eles estão felizes aqui, não é qualquer coisa que vai tirar. Nisso a minha preocupação é zero. Se acontecer, tem o trabalho que estamos fazendo eu, Alessandro, a equipe toda, de estar sempre monitorando e buscando. Daqui a pouco surge um, entra um, sai outro, problema zero. Temos que manter a base, até porque está funcionando.

Instabilidade

Nós tivemos duas grandes lições. Nos dois momentos de crise, em nenhum momento a gente fraquejou. O John foi firme, nós fomos firmes. Em nenhum momento pensamos em trocar treinador ou diretor. Nós avaliamos o trabalho. Quando o trabalho não tiver caminhando bem, não tem problema nenhum, trocamos os profissionais, seja treinador, diretor, supervisor, jogador. Mas a gente sabia o que tinha que fazer. Como empresa e profissionais que estamos aqui para tomar decisões, a gente tem que ser muito resiliente e coerente naquilo que acreditamos. Foi o que fizemos mesmo enfrentando calado tudo que enfrentamos. E é normal, faz parte do jogo. Futebol não vai deixar de ser passional. Acho que sim, acho que vêm tempos difíceis, como vêm ótimos tempos, como está acontecendo. O grande ponto é o quanto vamos estar preparados e firmes nos tempos difíceis para lidar e achar a solução. Ao mesmo tempo que estamos construindo, também estamos fortes, firmes, para quando vier uma turbulência a gente conseguir segurar e tocar.

André Mazzuco comenta melhorias internas

Uma das ideias nossas é que o scout do Botafogo seja responsável por toda a América do Sul para a holding (Eagle Football, empresa que John Textor faz investimentos no futebol). A gente teve um crescimento grande na questão de software e hardware. Melhoramos demais as assinaturas que nos ajudam na análise, scout, troca de conexão com clubes. Hoje temos todas as ferramentas para termos todas as informações possíveis dos atletas e das equipes. (Além disso), fizemos um investimento muito grande em equipamentos de recuperação de atleta. Semana passada adquirimos um ultrassom próprio do clube. Utilizamos todos os equipamentos bioquímicos de recuperação e análise para que tenhamos, desde a chegada do atleta ao clube, todas as informações necessárias. É um ponto que nos espelhamos muito nos clubes europeus. É uma organização interdependente, porque a fisiologia depende da bioquímica, podologia, termografia, fisioterapia. É quase que uma produção em série. Temos tudo funcionando de maneira bacana no Lonier. Lógico que falta, em certo momento, fazer um CT novo, moderno, mas em termos do que a gente precisa para alta performance, evoluímos bastante. Isso nos dá condição de termos os resultados que estamos alcançamos.

Confia no projeto

Agora, é otimismo. O Botafogo é um outro clube, outro momento, outra mentalidade. Não tem que ter pessimismo. Hoje tem que ter uma energia boa. Pô, o Botafogo está liderando o Brasileiro. Quem iria imaginar isso há um ano e dois meses atrás? Hoje tem que tirar esse sentimento ruim. Mesmo que a gente tenha um momento ruim, tem que empurrar para cima, cara. Porque a gente já conseguiu chegar, viu que dá. Agora é manter, trabalhar para superar isso. Mais uma vez, sabemos que podem vir tempos difíceis a qualquer momento, assim como vieram tempos bons. Mas aí é a nossa capacidade de reagir. 

A gente realmente está numa expectativa muito positiva. Se eu te falar que tínhamos a expectativa de estar em primeiro no Brasileirão, não. Mas agora o nosso grande desafio é constância. Tentar fazer com que o Botafogo se solidifique nessa prateleira para tentar fazer as mudanças necessárias. Estamos longe do orçamento e estrutura dos outros grandes clubes do Brasil. Estamos muito aquém do que pode chegar daqui uns dois, três, quatro anos, mas a gente está muito além do que encontramos no começo. Isso é um ponto bacana de equilíbrio.

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