A vida de um técnico de futebol é feita de desafios, mas a de Carlos Leiria no Botafogo, no começo de 2025, foi uma verdadeira montanha-russa. Escolhido para ser o treinador interino, ele assumiu o time em um momento de incerteza. Os resultados não vieram, a equipe perdeu a Supercopa do Brasil para o Flamengo, e a saída foi rápida.
Agora, em uma entrevista franca ao podcast "Toca e Passa", do jornal "O Globo", Leiria decidiu contar sua versão da história. Ele lamentou a falta de um bom planejamento e a preparação apressada, mas fez questão de mostrar sua gratidão ao clube. As palavras de Leiria mostram um profissional que, apesar das dificuldades, tratou a experiência como um grande aprendizado.
A Turbulenta Supercopa e a Falta de Planejamento
A Supercopa do Brasil contra o Flamengo era um dos primeiros grandes desafios da temporada. No entanto, para Leiria, a preparação não foi ideal. Ele afirmou que o dono do clube, John Textor, já havia "abdicado" da competição, o que mostrava a realidade que o Botafogo estava vivendo. O técnico acredita que faltou uma preparação adequada e um valor maior para um jogo tão importante.
Para os jogadores e a comissão técnica, a vontade de vencer era grande. Mas o torcedor queria mais, ele queria o título e a vitória sobre o rival. "O torcedor não quer perder pro Flamengo, o torcedor queria que nós voltássemos com o título da Supercopa", destacou Leiria. Essa diferença de expectativas entre o que o time podia entregar e o que o torcedor esperava gerou um clima de tensão.
Leiria foi questionado se jogou mais pelos resultados do que por um planejamento a longo prazo. Ele negou e explicou que sua intenção era dar tranquilidade para a diretoria tomar a melhor decisão. Ele não queria ser um problema, mas sim uma solução imediata.
A Importância de Proteger o Treinador
Em sua análise, Carlos Leiria pontuou que faltou uma maior proteção para o treinador. Ele sentiu que a direção deveria ter explicado melhor o que estava acontecendo, pois as decisões eram tomadas em conjunto. Leiria ressaltou que, no futebol moderno, com o calendário apertado, nenhum técnico toma decisões sozinho. "O calendário não te permite um tempo maior para que tu possa treinar", afirmou. O treinador precisa de informações para tomar a melhor decisão.
Leiria, que tem uma longa carreira na base, disse que não pauta seu trabalho apenas em vencer. Ele se preocupa com o desenvolvimento dos jogadores. A sua filosofia era clara: pensar no futuro do time, mesmo com as dificuldades do presente. "Uma decisão errada naquele momento poderia ocasionar um problema mais grave para a sequência da temporada", explicou. Ele se viu como um profissional responsável, que queria proteger a saúde e a integridade física dos jogadores.
A Questão da Pré-temporada
O ex-técnico também falou sobre o planejamento do clube no início de 2025. Ele mencionou uma declaração de John Textor, que apontou as pré-temporadas como um problema. Leiria lembrou que o Botafogo, pela terceira vez seguida, não chegou às finais do Campeonato Carioca. Isso mostra que o problema vai além de um único treinador.
"Então não está só no Carlos essa questão que muitas vezes eu via falarem, 'o treinador é cabeça dura'", disse. Leiria se vê como um profissional com convicção, mas também flexível. Ele nunca tomou decisões sozinho ou de forma autoritária. Sua missão era dar tranquilidade para a direção do clube. "Eu não tinha um cargo também para isso e também não é do meu perfil fazer isso", completou.
Gratidão e o Futuro da Carreira
Apesar de tudo, Leiria expressou sua profunda gratidão ao Botafogo. Ele encarou a experiência como um aprendizado fantástico para sua carreira. "Gostaria que as coisas tivessem acontecido de uma maneira diferente", admitiu. Ele lamenta que o torcedor não tenha visto o seu empenho. Leiria revelou que chegava cedo e saía tarde do CT, analisando vídeos e montando treinos, sempre buscando o melhor para a equipe.
A oportunidade de treinar o time principal, vindo da base, é vista por Leiria como um tabu a ser quebrado no futebol brasileiro. Ele acredita que se fosse outro perfil, ou um estrangeiro, talvez não teria recebido as mesmas condições.
A experiência no Botafogo foi um marco para ele. O clube o ajudou a se desenvolver pessoalmente e profissionalmente. Leiria aprendeu a lidar com a pressão da imprensa e as expectativas irreais. Ele lembrou que a equipe não tinha tempo para se adaptar, pois novos jogadores chegavam e outros saíam, como Luiz Henrique e Almada.
O Elenco e a Falta de Tempo
Leiria também destacou a dificuldade de treinar com poucos jogadores. Ele revelou que em alguns momentos teve que treinar com apenas oito atletas, sem ter um elenco forte. "Eu acredito sim que interfere, porque tu começa todo um planejamento atrasado", disse. Ele comparou a situação do Botafogo com a de outros grandes clubes, como Flamengo e Palmeiras, que conseguiram fazer uma pré-temporada completa.
Para ele, a falta de tempo para treinar e a mudança constante de comando técnico impactam diretamente no desempenho do time. Ele viu isso de perto no Botafogo, que não teve uma pré-temporada ideal.
A Saída Amigável e o Futuro
A decisão de deixar o clube foi um "acordo", e não uma demissão, como muitos disseram. Após retornar ao sub-20, Leiria sentiu que era o melhor para ele e para o Botafogo. "Foi um desgaste inicial muito grande na temporada", confessou. Ele não queria que o desgaste na equipe principal afetasse o trabalho na base.
"Era uma vontade minha naquele momento de não permanecer", disse Leiria, que veio para o clube com o propósito de treinar o sub-20. Ele não esperava assumir o time principal tão cedo.
O Processo de Formação de Matheus Nascimento
Além de falar sobre sua passagem no comando técnico, Carlos Leiria também comentou sobre o jovem atacante Matheus Nascimento, hoje emprestado ao LA Galaxy. Leiria trabalhou com ele no profissional e no time sub-23. O ex-técnico acredita que a formação do jogador teve problemas.
Para Leiria, o Botafogo subiu Matheus muito cedo para o profissional. O clube precisava dar uma resposta na época, e ter um jogador da base era importante. Com isso, a parte de "conteúdo formativo" de Matheus ficou defasada. O técnico elogiou a habilidade de finalização de Matheus, mas disse que ele tem outras "lacunas" a desenvolver.
A pressão sobre o jovem de 21 anos foi excessiva. "Foi uma cobrança forte, porque gostariam que o Matheus resolvesse os problemas e ainda não era o momento dele", ponderou Leiria. Ele acredita que o jogador deveria ter sido tratado com mais paciência pelo torcedor. No entanto, Leiria tem fé que Matheus vai dar a volta por cima e que a experiência no exterior será positiva.
Lesão de Bastos: A Versão de Leiria
A lesão de Bastos, ocorrida em um jogo contra o Nova Iguaçu no estádio de Moça Bonita, gerou muita polêmica. Muitos culparam Leiria por escalar o jogador em um campo ruim. Mas o técnico deu sua versão dos fatos.
Leiria explicou que a decisão de não usar Bastos na final da Supercopa foi tomada em conjunto. A boa atuação de Lucas Halter contra o Fluminense fez com que o retorno de Bastos fosse adiado. "Ganhamos 10 dias para preparar o Bastos para o próximo jogo", revelou.
Ele sabia que o gramado de Moça Bonita era ruim, mas era o que tinham. Leiria viu a lesão de Bastos como um lance isolado e estranho. "Foi um choque ali, acabou pegando a parte medial do Bastos", lamentou. Desde então, Bastos precisou passar por uma cirurgia e tem previsão de retorno apenas em outubro.
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