Nos últimos dias, a polêmica sobre o uso de gramado sintético nos campos de futebol ganhou força. Jogadores veteranos, como Neymar, e técnicos têm se manifestado contra a ideia de jogar em campos artificiais, alegando que eles causam mais lesões. A pressão sobre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem crescido, e a questão sobre a segurança desses gramados começa a ser debatida de maneira mais intensa. Mas será que essas preocupações têm fundamento? Ou será que estamos lidando com um mito? Neste artigo, vamos explorar o que os estudos científicos dizem sobre o assunto, o que está sendo feito pela CBF e qual a verdadeira relação entre o tipo de gramado e as lesões no futebol.
O Mito das Lesões no Gramado Sintético
A ideia de que os gramados sintéticos são mais propensos a causar lesões em jogadores vem sendo amplamente discutida. Muitos profissionais do futebol, incluindo atletas e treinadores, têm expressado preocupação com o impacto desses campos na saúde dos jogadores. No entanto, um estudo recente, publicado no respeitado jornal científico The Lancet em maio de 2023, desafiou essa noção.
A pesquisa analisou a relação entre lesões e o tipo de gramado, com foco exclusivo no futebol. O estudo envolveu dados de jogos em gramados sintéticos e naturais e concluiu que não há evidências científicas sólidas que provem que o gramado sintético cause mais lesões do que a grama natural. Essa descoberta foi um alívio para os defensores do uso do piso artificial, que muitas vezes são questionados por jogadores e técnicos preocupados com as possíveis consequências para a saúde dos atletas.
Flávia Magalhães, médica especializada em esportes, comentou sobre o estudo, explicando que a diferença no risco de lesões não é tão relevante quanto muitos imaginam. Para ela, a evolução do gramado sintético moderno tem reduzido o impacto nas articulações, algo que era uma grande preocupação no passado. Ela destacou também que a dor no joelho, conhecida como tendinite patelar, pode ocorrer tanto em gramados sintéticos quanto em campos de grama natural, especialmente quando o piso é mais duro.
A CBF Está Investigando o Impacto das Lesões
Com o aumento do debate sobre o uso do gramado sintético, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu tomar uma posição mais proativa. A CBF encomendou um estudo detalhado para investigar a relação entre o tipo de gramado e a incidência de lesões no futebol brasileiro. O estudo está sendo conduzido com base em dados fornecidos pelos clubes, que incluem informações sobre o número de lesões, a parte do corpo afetada, o tipo de lesão (traumática ou muscular), e a análise das condições do campo.
A amostragem de dados é importante para ajudar a CBF a entender se, de fato, os jogadores estão se lesionando mais em campos sintéticos do que em campos de grama natural. A expectativa é que a pesquisa traga um panorama mais claro sobre a situação, permitindo que as autoridades do futebol tomem decisões mais informadas no futuro.
Jorge Pagura, presidente da comissão médica da CBF, afirmou que a pesquisa ainda está em andamento e que as conclusões definitivas ainda não foram alcançadas. No entanto, ele destacou que os estudos anteriores realizados no exterior não indicam uma prevalência maior de lesões em gramados sintéticos. A CBF espera que os resultados brasileiros tragam mais evidências para esse debate.
O Que os Jogadores e Técnicos Pensam?
Por mais que a ciência ofereça dados que sugerem que o gramado sintético não é mais perigoso que o natural, a opinião dos jogadores e técnicos ainda tem um peso significativo nessa discussão. Recentemente, um grupo de jogadores veteranos, incluindo Neymar, se manifestou publicamente contra o uso do gramado sintético. Eles não apontaram um aumento específico de lesões, mas expressaram preocupações com o impacto do piso artificial na qualidade do jogo e no desempenho dos atletas.
José Boto, diretor técnico do Flamengo, também se posicionou contra o uso do gramado sintético, embora tenha destacado que sua opinião é baseada na experiência europeia. Na Europa, muitas ligas profissionais proíbem o uso de gramados sintéticos em jogos da primeira divisão, permitindo apenas campos híbridos, que combinam o sintético com a grama natural. Para ele, a diferença na qualidade do jogo e no impacto sobre o corpo dos atletas é muito grande, e a solução poderia ser um meio-termo: o campo híbrido.
