O Botafogo, um dos maiores clubes do Brasil, vive um momento de turbulência nos bastidores. A Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que comanda o futebol do time desde 2022, virou palco de uma intensa disputa. De um lado, está John Textor, o empresário americano que é o principal nome à frente do clube. Do outro, estão os acionistas da Eagle Football Holdings, a empresa que detém a maior parte das ações do Glorioso.
Essa briga já foi parar na Justiça do Rio de Janeiro e na arbitragem da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O centro da confusão é o controle da SAF e decisões importantes sobre o futuro financeiro do Botafogo. Vamos entender, de forma simples, o que está acontecendo e como isso afeta o time.
A Batalha Judicial: A Decisão que Anulou Atos
Recentemente, uma decisão judicial do Rio de Janeiro agitou o cenário. O juiz Marcelo Mondego de Carvalho Lima, da 2ª Vara Empresarial da Capital, tomou uma atitude importante.
A Anulação da Reunião de Julho
O juiz anulou os efeitos de uma reunião da SAF do Botafogo que aconteceu em julho. Essa reunião havia aprovado duas medidas muito polêmicas:
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Aumento de capital: Mais dinheiro entraria na empresa.
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Empréstimo de € 100 milhões: Um valor alto que seria conseguido por meio de um empréstimo, com as receitas futuras do clube como garantia.
Os acionistas da Eagle Football não gostaram. Eles viram nessas ações uma forma de Textor diminuir a parte deles na SAF. Em resumo, era uma tentativa de transferir o controle financeiro para empresas ligadas apenas a Textor. Eles alegaram que era um conflito de interesses.
O Que John Textor Diz
Textor, por sua vez, diz que a decisão da Justiça é uma manobra dos advogados da Ares, um grupo ligado à Eagle. Ele alega que esses efeitos da reunião de julho já tinham sido cancelados em um acordo extraoficial feito por ele.
O empresário americano afirma que foi ele mesmo quem pediu o cancelamento dos efeitos da reunião. Ele já tinha chegado a um acordo com Christopher Mallon, que era o diretor independente da Eagle Football na época. Por isso, para Textor, a decisão da Justiça sobre esse ponto seria nula, sem efeito real.
Textor Segue no Comando, Por Enquanto
A parte mais importante da decisão judicial, no entanto, é a manutenção de John Textor no comando do Botafogo. O juiz determinou que Textor deve seguir à frente do clube. Ele ficará no controle até que o caso seja analisado por um tribunal arbitral da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
O juiz destacou a necessidade de segurança jurídica no mercado do futebol. Ele também mencionou que as partes estão em negociação para um acordo amigável. Ou seja, a Justiça quer manter a estabilidade do clube enquanto a briga de sócios não se resolve.
Textor Enfraquecido? A Visão dos Acionistas
Apesar de Textor ter sido mantido no controle, os acionistas da Eagle Football veem a anulação da reunião de julho como um sinal de fraqueza do empresário.
A Questão Financeira
Os acionistas acreditam que John Textor tem poucas chances de ganhar o processo na FGV. Eles pensam que, com o tempo, ficará claro que o americano "não tem dinheiro" para levar adiante o plano de "salvar" a SAF.
Eles argumentam que a decisão do juiz pode abrir portas para novas ações na Justiça. Essas ações poderiam vir tanto da Eagle quanto da própria SAF ou do clube social. A briga, portanto, está longe de terminar e as partes envolvidas continuam trocando farpas nos bastidores.
A Dívida e o Controle
Essa briga toda não é de hoje. A confusão começou com o afastamento de Textor do dia a dia da Eagle Football Holdings. A empresa, que ele mesmo fundou, detém 90% das ações da SAF do Botafogo.
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Dívida: Textor cedeu 40% das ações da Eagle para levantar dinheiro para comprar o clube francês Lyon. As ações do Botafogo e do RWDM Brussels foram dadas como garantia, mas a dívida não foi paga até agora.
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Controle: O empresário continua sendo o dono da empresa que criou, mas sua influência no dia a dia da holding Eagle diminuiu muito.
É por isso que ele tem tentado comprar o Botafogo de volta, separando o clube do grupo Eagle. Essa tentativa de "divórcio" é vista pela nova gestão da Eagle como um conflito de interesses, já que ele estaria sendo "vendedor e comprador" ao mesmo tempo.
O Foco no Campo: A Estratégia de Contratações
Em meio à briga nos tribunais, John Textor também fala sobre o futebol. Ele revelou alguns segredos da estratégia de contratações que fez o Botafogo brilhar em 2024, conquistando a Copa Libertadores e o Brasileirão (informações dos snippets de busca).
O Olhar Duplo: Olheiro e Matemática
A forma como o Botafogo busca jogadores é uma mistura de olho clínico com números.
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O Olhar do Olheiro: Profissionais como Alessandro Brito olham o lado técnico do jogador. Eles observam o primeiro toque na bola, como o corpo está posicionado e a técnica ao virar o jogo. Eles buscam o jogador com um "olhar incrível" e "conhecimento profundo".
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O Olhar da Matemática: Textor usa os números. Ele se foca no tempo. Quer saber se o jogador recebe, gira e passa a bola em pouco tempo. Ele usa estatísticas para ter certeza do sucesso do passe.
Conclusão de Textor: Os dois olhares se unem. O olho do profissional e a matemática. O "mestre do tempo" costuma ser o melhor meio-campista, e essa união de métodos ajuda o clube a tomar boas decisões de contratação.
A Família Eagle Ajuda
A colaboração entre os clubes da Eagle Football Holdings é outra peça-chave:
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Visões Diferentes: Um jogador é avaliado por vários "olhos" diferentes. O profissional do Botafogo, o da França (Lyon), o da Inglaterra (Crystal Palace) e o da Bélgica (RWDM Brussels).
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Menos Erros: Se o jogador é aprovado por quatro perspectivas diferentes, em países e com necessidades distintas, a chance de todos estarem errados é "muito baixa". Isso garante que o jogador seja sólido em qualquer ambiente de jogo.
O Lado Humano
Textor ressalta que o lado humano também é importante.
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Recrutamento Pessoal: O próprio Textor se envolve no recrutamento dos jogadores.
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Conexão: Ele cita ter ligado para a família de atletas ou viajado para conversar pessoalmente, como fez com Luiz Henrique e Thiago Almada.
Para ele, muitos donos de clubes esquecem que criar um laço humano com o jogador e sua família é crucial. Isso faz diferença na hora de fechar um contrato e garantir o sucesso do atleta no clube.
Tensão no Clube Social: Conselho em Alerta
A briga pela SAF também tem reflexo no clube social do Botafogo. O Conselho Deliberativo está de olho nas ações da SAF.
Pergunta sem Resposta
O ex-presidente do Conselho Deliberativo, Mauro Sodré, teve suas perguntas para a SAF rejeitadas. O motivo? Segundo Alberto Macedo, atual presidente do Conselho, o pedido foi enviado fora do prazo.
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Ataque de Sodré: Mauro Sodré reclamou publicamente, dizendo que o ato era uma "censura". Ele alegou que o prazo não havia sido limitado claramente.
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Perguntas-Chave: As perguntas rejeitadas eram muito importantes. Elas questionavam a SAF sobre:
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Relatórios de endividamento.
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Se a SAF estava cumprindo o Acordo de Acionistas sobre a fiscalização da dívida.
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O conhecimento e a retirada das atas de reuniões do Conselho de Administração do Portal de Transparência do clube.
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A situação mostra que, mesmo sem o poder direto sobre a SAF, o clube social busca fiscalizar o que é feito na gestão do futebol. O atual presidente do clube social, João Paulo Magalhães Lins, eleito para o quadriênio 2025-28, chegou a se encontrar com a Eagle. Essa movimentação mostra uma possível mudança de postura, indicando um possível distanciamento do clube social em relação a Textor.
